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  • Foto do escritorMagda Cruz

Crónica. "Isso não é uma mulher, é uma pequena bomba ou A História de um tanque sem mulheres"


É no meu concelho que fica a Fábrica das Palavras. Nesse edifício à beira Tejo com traços futuristas estão armazenados todos os vocábulos da Língua Portuguesa — nem que seja porque tem nas estantes vários dicionários. Mas quando falo no facto de esta casa conter todos os verbos, termos e expressões é porque se trata de uma biblioteca. Esse monte de betão, aço e vidro é a linha da frente na luta pela leitura.


Eu não sou soldado. Nunca vi a guerra de perto e espero nunca ver, mas já passei muitas horas a dar notícias de lá. Pensei nisto ao ler o livro que inaugura “O Reino”, de Gonçalo M. Tavares. Em “Um Homem: Klaus Klump”, o autor escreve: «Nunca viste um tanque a trabalhar. Este país ainda é perfeito, esta rua ainda é perfeita: nunca uma bomba rebentou próximo de ti.» São duas frases que nos centram na realidade. Aqui damos notícia da guerra, analisamos os avanços das tropas, divulgamos apoios e armamento vindos de todos os cantos. Não falamos em nomes, tirando dois ou três protagonistas. Só os mais corajosos e experimentados jornalistas vão onde os tanques aniquilam tudo o que está rente à terra. Neste livro, umas páginas mais à frente, outra reflexão: “Um homem analfabeto está atrás de uma máquina que pode matar cem pessoas de uma vez. Os tanques estão parados e são úlceras dispostas pelas rotundas, ao pé de uma fonte. Um enorme tanque é uma obra-prima ao lado da água. Como é simples a água, e mesquinha, próxima de uma tecnologia forte.” Depois das palavras deste autor português, uma conclusão: Há tanques que perdem contra a água. E há tanques que só funcionam por causa dela.



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